Depois de sair da condição de vilão da dieta para ser reconhecido como campeão de saudabilidade, o ovo agora quer deixar de ser commodity. E na nova corrida do ovo, a Raiar está apostando R$ 200 milhões num projeto que se propõe a elevar a barra dos padrões de produção e bem estar animal, com a ambição de se transformar na principal marca de proteína orgânica do país.
Fundada por 5 executivos que nunca tinham pisado em uma granja mas que fizeram carreira no agronegócio, em grandes empresas de exportação e logística, a Raiar investiu no que há de mais moderno em termos de tecnologia para bem estar animal — como o 'jump start' um poleiro móvel desenvolvido na Holanda que ajuda no fortalecimento muscular dos pintinhos, estimulados a voar cada vez mais alto para se alimentar, acompanhando o ritmo de crescimento.
A Raiar também investiu na internalização da logística de armazenagem dos grãos e em uma fábrica de ração, numa tentativa de equacionar o maior gargalo para o desenvolvimento do mercado de proteínas orgânicas do país: a falta de grãos orgânicos.
Maior produtor de soja e terceiro de milho do mundo, o Brasil fica na lanterna na produção orgânica desses grãos. Enquanto por aqui a soja avança na Amazônia, os vizinhos Argentina e Uruguai apostam no cultivo sustentável, exportando milho e soja orgânicos para EUA e Europa, que pagam prêmios de cerca de 30%.
De uma produção total de 250 milhões de grãos de soja e milho no Brasil, apenas 60 mil toneladas são orgânicas.
Hoje a Raiar tem 80 mil aves, que se alimentam de 3 mil toneladas de grãos orgânicos. O plano é dobrar essa produção até o segundo trimestre do ano que vem, chegando a 700 mil em dois ou três anos — o que implicaria no consumo de cerca de metade da produção atual livre de agrotóxico. A marca líder de orgânicos, a Fazenda da Toca, tem hoje 120 mil aves.
Além de apoiar produtores com assistência técnica e com a compra antecipada da safra, a Raiar construiu silos próprios para secagem e armazenamento de grãos em sua fazenda de 170 hectares em Avaré, interior de São Paulo. — A gente recebe a safra direto da lavoura — diz Marcos Menoita, co-fundador e CEO da Raiar. A localização é estratégica, para reduzir os custos logísticos. Avaré fica entre o mercado consumidor e o cinturão de milho.
A fábrica de ração tem capacidade para alimentar 1,5 milhão de galinhas e vai atender a demanda não só da Raiar, mas de terceiros.
— Hoje tem muito produtor de ovo caipira que não trabalha com orgânico por falta de ração — completa Luis Barbieri, co-fundador e que foi diretor da Dreyfus.
Os orgânicos representam 0,3% do mercado de ovos no Brasil, número bem abaixo dos EUA, onde 8% já é livre de agrotóxicos. Diante da falta de oferta, o brasileiro que busca um ovo de mais qualidade tem que se contentar com o caipira ou livre de gaiola, segmento que representa quase 10% do mercado, mas que não dispõe de nenhum regramento para a rotulagem, diferentemente do orgânico.
A Raiar chegou ao varejo paulista há apenas 5 meses. Está presente nas redes Natural da Terra, Santa Luiza e Mambo, além de mercados orgânicos, e também no e-commerce, por meio de um programa de assinaturas. Em breve, a marca vai poder ser encontrada também no Carrefour e no Saint Marche. No mês que vem, os ovos da Raiar desembarcam no Rio, começando pelas 59 lojas da rede HortiFruti.
Mas a empresa não vai parar nos ovos. Na medida em que a produção de grãos nacional for ampliada, a Raiar pretende explorar outras proteínas animais e até mesmo entrar em no negócio de proteína vegetal orgânica.